segunda-feira, 2 de março de 2020

01 - NATAL COM NEVE EM PARIS


NATAL COM NEVE EM PARIS

Era uma vez a tentativa de se viajar pelo Brasil, e num país de dimensões continentais a lógica, obviamente, é viajar de trem, mas... o Brasil não tem trem!!! Eu sei que tem avião, mas o trem seria a opção mais óbvia para se chegar a cidades no interior do Brasil, aonde o avião não vai.

Mas todo mundo sabe que companhias de ônibus e afins não deixam porque daria prejuízo e tal, mas é melhor fingir que não se sabe disso, pois se mexer no vespeiro pode-se acabar num pote de mel (tá, eu sei que quem faz mel é abelha, mas como o ditado é com vespas, eu tive que adaptar... o importante aqui é entender a metáfora. Entenderam???).

Mas continuando: A ideia de minha mãe era irmos para a linda Gramado (RS) para passarmos o Natal por lá, que é uma cidade linda, limpa e cheia de atividades Natalinas. Nunca havíamos passado um Natal com neve e, claro, em Gramado não teria neve, pois o Natal por aqui é no verão e o calor é insuportável. Deve ser por isso que a neve vai passar o verão no inverno Europeu. Tudo bem, não teria neve, seria bem quente, chocolate seria sempre derretido, mas seria um feriado numa cidade incrível.

Como não viajávamos há muito tempo minha mãe achou melhor procurar uma agência de viagem para ajudar. Para a frustração geral, um passeio a Gramado era tão caro, mas tão caro que teríamos que nos contentar a passar as festas em casa mesmo, comendo frango com farofa (e passas, porque Natal sem passas, mesmo que não se goste, não é Natal), pois peru é grande demais para duas pessoas.

Já estávamos discutindo se deveríamos comprar Panettone ou Chocottone (Chocottone, claro, que não tem frutas cristalizadas... eca!) quando o telefone tocou e era a moça da agência para oferecer uma opção de viagem: - Olha, não sei se interessa a vocês, mas como a viagem para Gramado está muito cara, tenho aqui uma viagem para Paris pela metade do preço. Interessa?

Preciso responder isso?

Bom, conclusão: Natal em Paris!

Fiquei pouco a vontade no início, pois era no esquema de excursão, e como já expliquei, não sou turista, mas assim que chegamos ao destino fiquei mais tranquilo, porque a excursão se resumia a mim, minha mãe e a um casal que quase não vimos no período que ficamos lá. Ufa!


PARIS

Chegamos a Paris, finalmente, depois de horas de desconforto na classe econômica. Alívio enfim! Já sabe, né, quando quiser se vingar de alguém, torturar sem pena, mande a pessoa para qualquer lugar numa viagem de classe econômica. Quanto mais para longe o destino, melhor é a vingança.

Do aeroporto uma van da excursão nos levou para o hotel para um rápido alívio. Rápido porque mal chegamos ao quarto do hotel e já teríamos que descer em seguida, de volta para a van que nos levaria para um passeio “bucólico” no Rio Sena, a bordo de um Bateaux Mouche.

Falando um pouco do hotel, apesar do prédio suntuoso, o quarto era bem pequeno e deixava a desejar, o que era resultado da invasão de redes americanas, que se preocupam mais com quantidades (maior lucro) do que com a qualidade e conforto para os hospedes (como eu). Fiquei sabendo que no passado o hotel hospedara ninguém menos do que Gioachino Rossini, o compositor de “O Barbeiro de Sevilha”!!! Feliz dele que conheceu o hotel antes de virar poleiro de turistas.




Apesar dos quartos não servirem de referência para seu passado glorioso, sua fachada ainda mantinha a imponência dos idos da Belle Époque e, de quebra, o mesmo prédio ainda abriga a Passage Jouffroy (passage é uma galeria, como as que temos no Brasil, normalmente com algum comércio, e Jouffroy... é o nome da galeria) e um dos museus de cera mais antigos da Europa, o Musée Grevin.

Bom, depois falo mais da galeria e seu comércio, porque a van chegou! Chegou e junto com ela um temporal para ninguém botar defeito. Recomendo muito! Ainda mais num passeio de barco no inverno parisiense. E se vocês não entendem ironia, boa sorte!




Saímos de um lugar próximo a Torre Eiffel, passamos por vários lugares importantes historicamente que ficavam logo ali nas margens do Rio, passamos pela Catedral de Notre Dame (antes do incêndio) que aquela altura era o cenário perfeito para o romance de Victor Hugo, “O Corcunda de Notre Dame”... Não, não é um desenho da Disney, é um romance de Victor Hugo!!! Logo depois da Île de la Cité o Bateau Mouche contornou para voltar ao ponto de partida.



Eu fiz vááárias fotos, todas borradas, embaçadas e pingadas pela chuva, então se querem imagens nítidas terão que assistir diretamente da minha memória... na verdade minha memória também não é das mais nítidas. E minha mãe? Minha mãe “apagou” o passeio todo.

De volta ao hotel fomos praticamente direto para a cama... e de repente o telefone toca! O tempo passou literalmente num piscar de olhos, porque nem me lembro de ter sonhado e quando nos demos conta já eram oito horas da manhã e a recepção do hotel nos chamava para avisar que a van já nos esperava para o próximo passeio. Ainda estava escuro e frio, o que não era um estímulo para abandonarmos os cobertores que nos aqueciam durante o sono profundo, e que tivemos que afugentar de supetão.

Sem tomarmos o café da manhã, porque já estávamos atrasados, lá fomos nós para mais um passeio num belo dia de chuva, o ideal para conhecer os jardins de Versailles... ironia, lembram?



Fotos do jardim real, de um dos palácios mais famosos e importantes do mundo, num dia de Sol seria o ideal... e sem os turistas poluindo a paisagem, obviamente. Bom, mas como não havia solução para fazer o dia se tornar ensolarado e desintegrar a turistada, resolvi fotografar assim mesmo.

Fiz algumas fotos do jardim e do palácio por fora, pois o passeio não incluía a parte interna (pacote de pobre é fogo). Para melhorar a situação eu só tinha, na época, uma câmera amadora (dessas de turista, sabe?) com lente fixa e por isso não consegui fazer nenhuma foto com o prédio inteiro, porque o prédio centenário era demasiado grande... Coisa que Freud explicaria muitos anos depois de sua inauguração.

Mas para quem quer ver mais sobre o palácio, recomendo que assistam a série “Versailles”, que dramatiza sobre o reinado de Luís XIV, o Rei Sol (com direito a muita licença poética, então cuidado para não acreditar em tudo). Tem também o filme “Um Pouco de Caos”, sobre a construção de parte dos jardins do palácio, com licença poética idem, e fora isso é ver documentários e procurar informações em sites, porque eu não sou professor de história.

Mas mais um comentário sobre o realismo de produções que tentam recriar uma época com fidelidade: digo que é impossível fazer uma recriação fiel sem o Kubrick, sua iluminação com velas e roupas da época compradas em leilão. Então fica a dica para o filme dele (do Kubrick, não do Rei Sol) que mais gosto, “Barry Lindon”, que é adaptado de um romance de ficção, mas que é uma das reconstituições de época mais impressionantes que conheço... e, pois é, não sou historiador, mas adoro cinema (cinema de verdade, como aqueles do Scorcese).



Depois de Versailles voltamos para o centro de Paris e num passeio a jato conhecemos, por exemplo, a Catedral de Notre Dame (por fora... e por trás, porque tinha menos turistas). O local remete à idade média e é berço da cidade, pois Paris começou naquela região.



Mas atendendo a pedidos, tirei uma foto da frente da Catedral também, apontada para cima, toda torta e muito recortada para evitar a poluição visual causada pela multidão de tur... ahh, vocês entenderam!




Em seguida fomos (também a jato) ao Sacre-Coeur de Montmartre, mas a horda de zumbis-turistas impossibilitava qualquer contemplação do lugar que, aliás, era algo recorrente por toda Paris. Sinceramente não sei como conseguiram filmar “Amelie Poulain” ali e tantos outros filmes... deve ter sido efeito especial, só pode. Escolhi uma foto que tirei de longe, e meio escura, porque assim dá a impressão de não têm muitas pessoas. Mas não se enganem, se forem lá, vão sufocar no mar gente.



Ao menos o tempo deu uma trégua e melhorou, abrindo espaços entre as nuvens. Não foi por muito tempo, mas por tempo suficiente para esticar o passeio depois que saímos do ponto mais alto da cidade.

Já na parte baixa passamos em frente ao emblemático Moulin Rouge, mas de dia e com carro em movimento. Foi tudo, menos emblemático, como já devem ter concluído. Aliás, se você vai lá esperando encontrar o lugar do musical cinematográfico de mesmo nome, vai se decepcionar.



Olhando agora não é tão glamoroso. Concorda? Mas tem vários filmes aonde você pode ter um vislumbre, mesmo que romanceado, do que era o antigo cabaré. Se gosta dos filmes do Indiana Jones, então procure o seriado que fizeram da personagem nos anos 1990 (que eu amo) e procure na primeira temporada (que não é a melhor, mas mesmo assim bem legal) onde  Indiana Jones, ainda menino, fica amigo de ninguém menos que o incrível ilustrador Norman Rockwell, que o apresenta ao lugar, as coristas e artistas como Picasso, em início de carreira e o já consagrado Degas, na Paris de 1908.

Se fui ao Ópera Garnier? Passar de carro, conta?  Mesmo não sendo foto de cartão postal creio que dá para se impressionar com sua bela fachada. E se algum carioca achar que lembra algo, então saiba que sim, porque o famoso teatro francês inspirou a arquitetura do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ali na Cinelândia, numa época em que o Brasil preferia ter a França como exemplo, ao invés dos Estados Unidos. Bons tempos...



Sainte-Chapelle, Place Vendôme, Place de la Concorde, Petit Palai, Les Invalides e outros lugares importantes, foram só de longe e de carro também. Podem imaginar como ficaram as fotos... fotografei tudo com o carro andando, afinal ou era assim, ou não era nada. Restou torcer para tirar alguma foto que valesse a pena. A maioria ficou com cara de foto de turista, infelizmente.

Querem um exemplo? Então vou mostrar foto do La Madeleine... Não!!! Madeleine não é uma corista gostosa de cabaré francês! É um prédio construído por Napoleão (e não, Napoleão não era engenheiro, nem peão de obra), e que foi transformado em igreja e dedicado a Santa Maria Madalena. Também tem uma espécie de bolinho com o nome de Madeleine, mas pela foto você vai deduzir que não é dele que estou falando aqui.
  

Com a Torre Eiffel só foi melhor (menos pior) porque pegamos o barco (no dia em que chegamos, lembram?) para o passeio noturno bem próximo a ela e deu para aprecia-la com mais tempo que as outras atrações. E foi com lágrimas nos olhos... lágrimas de chuva, logicamente, que consegui fazer algumas poucas fotos, que até ficaram melhor do que o esperado (quando se tem talento fica mais fácil).



O Arco do Triunfo nós visitamos com mais tempo, pois estávamos no nosso “tempo livre” (livre da excursão). Só vimos o arco por fora, até porque nem passou pela minha cabeça, na época, que se podia entrar ali. Era apenas 15h30m e logo escureceria por conta do inverno, mas apesar do frio (não tinha neve) até que estava agradável para uma caminhada , então decidimos descer a Champs Elysee a pé, até perto da roda gigante (aquela tipo a London Eye), onde tinha uma feirinha de Natal.





Foi naquela feirinha onde comi um dos melhores sanduíches da minha vida, e não foi por causa do recheio, mas por causa do pão. O legitimo pão francês! E olhando o arco lá de baixo da avenida mais famosa do mundo, não me veio a mente nenhum filme, dos muitos que tem a avenida e o arco como cenário.  Mas isso porque, para mim, a imagem mais marcante daquele lugar é a da libertação de Paris da ocupação nazistas.


A esta altura minha mãe, que não é de andar muito, já estava “pelas tabelas” como dizem por aí, então voltamos de táxi para o hotel para descansarmos um pouco (ela, porque eu estava com a carga toda). À noite minha mãe não sai por nada, uma espécie de vampiro ao contrário, então fui sozinho ver como estava a decoração da Galeria Lafayette e aproveitar para comprar mais presentinhos para nossa noite de Natal em Paris. Linda a decoração! Talvez até cafona, mas linda! 


Ahh, sim... fiquei de comentar mais sobre a galeria que atravessava o prédio do hotel, então vamos lá: Se vir uma galeria em Paris, da qual você nunca ouviu falar, entre! É sempre uma caixa de surpresas, cheias de bons motivos para uma boa exploração. Enquanto os turistas normais irão dar exclusividade a lugares como as famosas Lafayette, Printemps e seus departamentos ou a lugares como o Maxim’s e Fauchon,... 



...você pode descobrir lugares singulares como Passage Jouffroy (que nem é tão fora do circuito, assim, mas não é lotada e vale a pena)... Lembrando que lá no início do texto tem uma foto da entrada embaixo do prédio do hotel.

Logo na entrada encontramos o restaurante “Le Café Zéphyr”, que pelo nome já dá para sacar que não é típico francês, mas que foi uma mão na roda para nós, que éramos viajantes em início de carreira. Se era bom? Posso dizer que dava para engolir, pois comemos lá algumas vezes, porque não sabíamos de nenhum outro restaurante por perto (e aberto durante os feriados de fim de ano). Se era caro? Ahh, está querendo saber demais, né?!

Continuando: Do lado direito uma loja de roupas (caras) e logo em seguida a entrada do museu de cera. Entrando na galeria, logo a direita, a entrada do hotel onde ficamos e em seguida lojas para todo tipo de interesse e gostos, como uma loja que vendia quadrinhos (ou BD como dizem por lá), outra que vendia miniaturas de personagens animados famosos como Asterix ou Barbapapa (alguém lembra do Barbapapa?), a loja La Cure Gourmande, de biscoitos e mais outras opções para quem quer olhar vitrine e/ou gastar dinheiro.

Ao fundo mais um hotel, o Chopin, mas para quem pensa que acabou ali, se engana, pois virando a esquerda a galeria continua e se estende até atravessar todo o prédio.



Para tudo! “- Mas e o Louvre?! Esqueceu?!” Não queridos, ninguém esquece o Louvre e passamos por lá, de carro e a pé, durante o dia e durante a noite, mas... estava lotado e com filas intermináveis! 


Olhem nesta foto noturna e reparem nas silhuetas que circundam a pirâmide! Melhor deixar a visita para uma próxima oportunidade. 




Mas para quem não consegue entrar no Louvre, tem as lojinhas que ficam no subsolo e formam mais uma galeria de compras e, lá, conseguimos ir... até parece coisa de turista, ir ao Louvre e ao invés de quadros e esculturas, visitar lojinhas, mas a culpa é da fila! E estamos entendidos!




Enfim... o Natal chegou, passou o dia e logo se tornou passado.

"- E a neve, cadê?"


Não sei, deve ter ido passar o inverno em Gramado, onde é mais "quentinho", porque em Paris necas de pitibiribas da neve.


Até a próxima!