sábado, 8 de agosto de 2020

02 - A EXCURSÃO DE DANTE - PARTE 01- ITÁLIA - POMPÉIA -

 POMPÉIA - ITÁLIA

Como podem ver, ali estou eu na foto, sem fazer pose, porque como já sabem, não sou turista, e foto posada... enfim, ao fundo a entrada da cidade (uma delas), mas eu estou mesmo é de olho no Vesúvio, para ter certeza de que não terei o mesmo destino da população local. Mas isso é só o aperitivo, então se puderem fiquem de olho nele, enquanto eu visito a cidade. Qualquer coisa é só gritar, até porque não daria mesmo tempo de correr para lugar nenhum.

Como eu disse lááá no início, odeio viajar em excursões, o que eu não disse ainda é que esta viagem é uma excursão! 

Eu já disse isso?! 

Bom, eu só queria ver se estava realmente prestando atenção ou se é como os turistas. Até agora passou no teste, quero ver se chega até o final (eu mesmo quase não cheguei). Fui acompanhando minha mãe que não queria ir sozinha, com medo de se perder ou algo do tipo... aliás um dos motivos que a levaram a escolher excursão ao invés de ir por sua própria conta e risco. 

Logo ficou claro que cruzar a Europa com aquele pacote de agência de turismo não foi uma escolha das mais inteligentes. Mas eu tentei avisar que esse negócio de ir de excursão não era uma boa ideia, eu tentei! Agora não reclama! E quando chegamos a Pompéia, ainda no início daquela odisseia, até minha mãe já preferia enfrentar o Vesúvio, que estava bem na nossa frente, do que voltar para o ônibus da excursão... tarde demais, infelizmente! 

O mais difícil dessas viagens, com ou sem excursão, é fazer fotos das paisagens sem que apareçam turistas... Ô praga!!! Para conseguir fazer fotos, sem poluir as imagens das ruínas históricas com retratos da espécie humana, havia duas estratégias: eu deixava todos passarem a minha frente e fotografava os lugares que ficavam para trás, mas mesmo assim, muitas vezes, surgem os retardatários para atrapalhar e então a solução é apontar a lente da câmera acima das cabeças dos turistas que ficam por ali poluindo a paisagem. 

Aí embaixo, a foto de um edifício público, um dos mais importantes da cidade, do ponto de vista arquitetônico, é a Basílica ( o que restou dela, logicamente) e que causou muita discussão sobre se ali havia ou não uma cobertura (telhado)... eu que não me meto a opinar sobre isso. 

E minha técnica anti-turista neste caso foi a estratégia do "deixa todo mundo seguir e fique para trás"... como podem ver, funciona!
Como a cidade de Pompéia ficou soterrada em cinzas vulcânicas por mais 1.500 anos, para nossa sorte, e azar dos nativos da época da erupção, ganhamos um dos mais extraordinários presentes arqueológicos já registrados. Aquela cidade ficou congelada no tempo, praticamente intacta e isso ajudou a revelar tudo sobre a rotina e a cultura da civilização que viveu ali a mais de dois mil anos.

Corro o risco de receber chacotas por confessar uma das coisas que mais me impressionou lá, mas ok, lá vai: Observando os cruzamentos das vias principais de Pompéia, eu reparei (não há como ignorar) numas pedras posicionadas de forma diferente e mais elevadas do que daquelas que serviam para pavimentar o resto das ruas, como fossem faixas de pedestres... e eram mesmo faixas de pedestres!!! As pessoas atravessavam mesmo as ruas, passando por aquelas pedras, a dois mil anos atrás! Agora pergunte se os turistas de hoje atravessavam na faixa... coisa nenhuma! E os veículos? Então, carroças, bigas e afins, passavam com suas rodas nos espaços entre as pedras. Pelo desgaste das pedras eu diria que era uma cidade bem movimentada.
Abaixo o Fórum, que não é o lugar onde encontramos juízes batendo seu martelinho e nem loja de grife, mas o lugar onde acontecia a vida pública e religiosa das cidades romanas. Em Pompéia tinha o chão completamente calçado com mármore e infelizmente não sobrou muito daquele calçamento, mas dá para ter uma ideia de como era, observando as pedras que sobram ali... será que os turistas levaram o piso de mármore achando que era souvenir? Não duvide! 


Uma característica dos romanos era a aceitação de deuses de diversas culturas, que por muitas vezes eram até incorporados por eles, como é o caso de Ísis, deusa de origem egípcia e que tem um templo ali em Pompéia. O Cristianismo também seria, num futuro que aquela cidade não chegou a ver, aceito como religião oficial.  Mas no caso abaixo o templo era do deus greco-romano Apolo. Como podem ver, deus de casa não faz milagres... aliás, nem de fora!


A casa do Fauno, que só sobrou ruínas, como tudo ali. Acho que ganhou esse nome por causa da estátua que está na foto... ou alguém acha que ali morava o Fauno? Complicado explicar o Fauno em poucas palavras, porque sua forma e origem é um pouco confusa, fruto de um "telefone sem fio", que curiosamente era algo que não existia na época como objeto e hoje também se tornou raro... o telefone, não o Fauno, que nem existe. Mas normalmente ele é mostrado como tendo o corpo, da cintura para baixo como um bode, para cima como homem e com chifres na cabeça, como outra figura mitológica, o Pan, que deve ter sido uma das origens dessa forma de Fauno. Bem diferente da retratada na estátua da foto, que deve ser mais fiel ao imaginado na época.


A próxima foto eu só tirei porque fiquei encantado com os detalhes (como esta tirei muitas outras de outras ruínas incríveis)... reparem que havia um segundo andar ali, onde ainda podemos ver a porta, as colunas de sustentação para o teto e a sustentação do piso, que já não existe, e restos das pinturas que ornamentavam as paredes do lugar... não, aquele teto ali não é o original!  


E para quem queria pão quentinho, Pompéia tinha diversas padarias espalhadas pela cidade (certamente todas cidades tinham, mas só aqui ficaram preservadas, capito?), ao gosto do freguês. Reparem nos fornos... fantástico! Mas apesar da fome que deu, preferi não comer nenhum pão por lá, pois depois de quase dois mil anos não seria mais pão dormido, seria "pão múmia". Eca!
Para os que acham que a "Junk Food" é coisa recente e criada pelos americanos, engana-se e Pompéia também pode ser uma espécie de prelúdio para as lanchonetes McDonald's que conhecemos tão bem (infelizmente) nos dias de hoje, ou bares (Termopólio do Lararium, que é uma taverna) que, creio eu, seria a comparação mais correta.

Na foto pode até ver o balcão, tipico das lanchonetes, onde os clientes eram servidos. Só não sei o que serviam lá, mas certamente não era BigMc com fritas e Coca-Cola.

Depois da sessão de teatro, nada melhor do que ir paquerar na lanchonete Vesúvio's, o lugar mais quente da moda!
E falando em teatro, a parte da arquibancada de um deles na foto, que tirei com aquela estratégia de "mirar acima das cabeças dos turistas", olha aí o resultado! Pena que não dava para saber que peça estava em cartaz ali na época, mas certamente não seria algo como "Cats".
Se acima podemos ver parte da arquibancada, abaixo podemos ver, a esquerda, parte do que seria o palco, bastidores, etc.


Se durante este texto lembrou do famigerado filme "Pompéia" (2014), esqueça tudo que viu lá, porque o filme hollywoodiano destrói a história, o bom senso e, claro, o bom gosto, porque nem para filme de ficção científica serve... Por exemplo: No final da obra em questão (sim, sim, vou contar o final, porque não há nenhuma surpresa ali) nos deparamos com cena mais clichê do mundo, que mostra o casalzinho romântico virando pedra, que é uma das notícias falsas mais famosas da história do mundo (e licença poética tem limite), já que ninguém de Pompéia jamais virou pedra... no máximo ganhou uma estátua de mármore, o que não é a mesma coisa.

Vamos lá, se fosse sobre alguém fossilizado, seria o mais próximo do termo "virou pedra", mas ainda assim incorreto, porque o que acontece no processo de fossilização é que, durante a decomposição do corpo os espaços vão sendo preenchidos... com lama ou afins. Não sou especialista, mas é mais ou menos isso. Com o tempo aquela "lama" seca, endurece e petrifica, ficando na forma do corpo que existia ali. 

O que aconteceu em Pompéia, no fatídico ano de 79 dmC (depois do mito de Cristo), foi que as cinzas (e não a lava, que teria eliminado qualquer vestígio dos corpos) cobriram os cadáveres das pessoas que morreram por conta dos gazes tóxicos, e aí, como no caso do fóssil, os corpos se decompuseram. A diferença é que as cinzas não ocuparam os espaços vazios após a decomposição, mas secou em volta dos corpos (e de todo o resto), como uma casca de ovo. Quando as escavações arqueológicas começaram a ser feitas lá, entre todos os tesouros históricos que surgiram, começaram a surgir também diversos objetos amorfos e ocos... Mistério!!! Então, para tentarem descobrir exatamente o que era, encheram os espaços vazios com gesso (ou algo do tipo), que por fim revelou serem os corpos das pessoas e que é o que vemos expostos por Pompéia ou no museu em Nápoles. 

Então esqueçam essa bobagem de virar pedra, algo que só a Medusa tem o poder mágico de fazer, porque o que se vê são "moldes em gesso, de pessoas... mortas". Mesmo assim bem impressionante!


Na foto aqui em cima, podemos ver o molde de uma das vitimas, que estava sentada e com as mãos cobrindo o rosto na tentativa de se proteger... obviamente não deu certo. 

Abaixo outro molde impressionante de uma mulher, grávida, deitada de bruços e novamente a tentativa de se proteger levando as mãos para cobrir o rosto. 


Quando criança eu vi uma foto de um cachorro que havia virado pedra... "- Ué, mas você não falou que não existe isso de virar pedra?". Pois é, mas eu era criança, não turista. Continuando: Vi a foto do pobre do cachorro que morreu se contorcendo na tentativa de se soltar de uma corrente onde estava preso... coitado, virou cachorro quente! Pobrezinho.

Mas continuando... Acho que vou encerrar o passeio pela incrível Pompéia nas Termas Stabianas. Um ótimo lugar para relaxar... bom, hoje nem tanto, porque com a horda de turistas por ali, nem consegui fazer uma boa foto panorâmica. Sobrou então mostrar alguns detalhes, como abaixo, na parte inferior da foto, onde ficava a água e os usuários das termas, logicamente. 


Esta parte das termas, como podem ver, ganhou uma grade de proteção... adivinha contra quem? Ganha um pirulito quem acertar!


E, tá,  sei que mostrei pouco da cidade, mas é realmente impossível descrever o lugar, mesmo com fotos... e lembrando que como estávamos numa excursão, onde o tempo é contado e corrido, não restando tempo para maior apreciação e registros fotográficos... se alguém ficasse para trás, e se perdesse por ali, provavelmente viraria morador da cidade fantasma, porque o lugar é grande e labiríntico. Mas ao menos não se corre o risco de cruzar com o Minotauro por ali (que provavelmente foi esperto e evitou ficar perto do celebre Vesúvio). 

Prometo tentar voltar com mais calma a Pompéia, porque é um lugar que merece bis... sem excursão!


Agora vou indo, porque Pompéia foi só o início daquele longo, corrido e chuvoso dia, que deveria ter sido divido em pelo menos uns cinco dias de exploração, para dar tempo de visitarmos a cidade de Herculano e o Vulcão adormecido (e espero que continue assim se eu estiver por perto).

Próximas paradas Nápoles e Ilha de Capri